Entre os dias 15 e 23 de junho
deste mês foi realizada a Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental,
evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável. A Cúpula reuniu diversas atividades autogestionadas por ONGs,
movimentos sociais, povos indígenas, quilombolas, pescadores, empreendedores de
economia solidária, entre outros. As atividades foram realizadas em tendas
abertas, gratuitamente e contaram com grande participação popular. Uma média de
25 mil pessoas circularam por dia no evento. Para aqueles que acreditam que
existe uma alienação e um marasmo político na sociedade brasileira, a Cúpula
provou o contrário. Quem passou pelas tendas montadas no Aterro do Flamengo pôde
ouvir as muitas vozes dos povos latino-americanos denunciando a situação das
populações e discutindo suas próprias alternativas para um futuro sustentável e
mais justo. Foi muito bonito ver a convergência de tantas pessoas tão
diferentes, mas unidas em uma visão comum. Uma das muitas questões discutidas
foi o subsídio dos governos a combustíveis fósseis, que somam 1 trilhão de
dólares por ano e que apenas beneficiam as grandes corporações poluentes.
Dinheiro esse que poderia ser redirecionado para a população pobre e para
iniciativas sustentáveis.
Uma das conferências de grande
público reuniu Paul Singer, Secretário Nacional de Economia Solidária, e
Boaventura Santos, da Universidade de Coimbra. Após afirmarem a Economia
Solidária como forma de resistência ao capitalismo e contra a chamada “economia
verde”, o debate foi aberto para o público. Uma senhora negra pegou o microfone
e fez uma denúncia: “Sou quilombola. Sou descendente de escravos. Nós estamos
sendo tratados que nem animais. Pelo amor de Deus. Quem puder nos ajudar, nos
ajude. Eu tenho 88 anos. Meu pai morreu por essa nação. Vai lá ver o que nós
estamos comendo: do chão, igual porcos!” Seu desabafo emocionou a todos os
presentes.
Esse é o grande mérito da Cúpula:
dar voz àqueles que não são ouvidos em nossa sociedade. Reunir num diálogo de
iguais políticos, intelectuais, ativistas e populações excluídas. Estas últimas,
ao contrário do que muitos pensam, são extremamente conscientes das causas das
desigualdades e têm soluções concretas e viáveis para eliminá-las. Foi na
Cúpula dos Povos e não na conferência oficial que pudemos ouvir as muitas vozes
da sociedade, ver reais caminhos para o desenvolvimento sustentável e entender
qual é o futuro que realmente queremos.
Foto: O intelectual português Boaventura Santos e uma senhora quilombola durante conferência na Cúpula dos Povos.
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