sábado, 23 de junho de 2012

O futuro que realmente queremos

Entre os dias 15 e 23 de junho deste mês foi realizada a Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental, evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. A Cúpula reuniu diversas atividades autogestionadas por ONGs, movimentos sociais, povos indígenas, quilombolas, pescadores, empreendedores de economia solidária, entre outros. As atividades foram realizadas em tendas abertas, gratuitamente e contaram com grande participação popular. Uma média de 25 mil pessoas circularam por dia no evento. Para aqueles que acreditam que existe uma alienação e um marasmo político na sociedade brasileira, a Cúpula provou o contrário. Quem passou pelas tendas montadas no Aterro do Flamengo pôde ouvir as muitas vozes dos povos latino-americanos denunciando a situação das populações e discutindo suas próprias alternativas para um futuro sustentável e mais justo. Foi muito bonito ver a convergência de tantas pessoas tão diferentes, mas unidas em uma visão comum. Uma das muitas questões discutidas foi o subsídio dos governos a combustíveis fósseis, que somam 1 trilhão de dólares por ano e que apenas beneficiam as grandes corporações poluentes. Dinheiro esse que poderia ser redirecionado para a população pobre e para iniciativas sustentáveis.
Uma das conferências de grande público reuniu Paul Singer, Secretário Nacional de Economia Solidária, e Boaventura Santos, da Universidade de Coimbra. Após afirmarem a Economia Solidária como forma de resistência ao capitalismo e contra a chamada “economia verde”, o debate foi aberto para o público. Uma senhora negra pegou o microfone e fez uma denúncia: “Sou quilombola. Sou descendente de escravos. Nós estamos sendo tratados que nem animais. Pelo amor de Deus. Quem puder nos ajudar, nos ajude. Eu tenho 88 anos. Meu pai morreu por essa nação. Vai lá ver o que nós estamos comendo: do chão, igual porcos!” Seu desabafo emocionou a todos os presentes.
Esse é o grande mérito da Cúpula: dar voz àqueles que não são ouvidos em nossa sociedade. Reunir num diálogo de iguais políticos, intelectuais, ativistas e populações excluídas. Estas últimas, ao contrário do que muitos pensam, são extremamente conscientes das causas das desigualdades e têm soluções concretas e viáveis para eliminá-las. Foi na Cúpula dos Povos e não na conferência oficial que pudemos ouvir as muitas vozes da sociedade, ver reais caminhos para o desenvolvimento sustentável e entender qual é o futuro que realmente queremos.

Foto: O intelectual português Boaventura Santos e uma senhora quilombola durante conferência na Cúpula dos Povos.

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