Todos já ouvimos falar sobre as implicações ao meio ambiente
e à saúde humana derivadas do uso de organismos geneticamente modificados (OGM)
como os transgênicos. No entanto, muitos desconhecem as implicações sociais e
econômicas de tal uso. Os OGM são formulados de forma a permitirem o uso de
altas doses de agrotóxicos. São especialmente úteis em monoculturas de grande
extensão, nas quais é mais difícil o controle de ervas daninhas e pragas – não
só pela extensão de terra, mas pela diminuição da biodiversidade e,
consequentemente, da resiliência do sistema. Um exemplo disso é o uso, nos
Estados Unidos, de um tipo de soja geneticamente modificada de forma a se
tornar resistente ao uso de herbicidas. Em grandes extensões de terra, a
técnica utilizada pelos produtores é passar com um avião jogando veneno na
plantação. A soja transgênica, que é resistente ao veneno, vinga; e as outras
plantas indesejadas, morrem.
As grandes corporações de biotecnologia formulam esses OGM
em seus laboratórios de engenharia genética, registram a patente dessas
sementes, e lucram com a venda das sementes e dos agrotóxicos aos quais são
resistentes. Dessa forma, os produtores rurais têm de pagar os royalties de
propriedade intelectual à empresa, a cada nova safra. Para os pequenos
produtores isso sai muito caro. A semente, que antes era gratuitamente
oferecida pela natureza, passa a ser uma mercadoria a ser comprada.
De um lado, vemos grandes proprietários de terra, cujas
monoculturas se sustentam na medida em que podem pagar por sementes e agrotóxicos
e podem produzir alimentos artificialmente baratos. Do outro lado, vemos os
pequenos produtores, sem poder competir com os preços do mercado do
agronegócio, forçados a deixar suas terras e viver da venda de sua força de
trabalho nas grandes propriedades.
Dessa forma, quando compramos um produto orgânico, não estamos
apenas cuidando da nossa saúde e do meio ambiente, mas, também, contribuindo
com os pequenos produtores que não podem (e não querem) comprar aquilo que é um
direito de todos os homens: as sementes. Segundo Vandana Shiva, a “guerra contras pestes” levada a
cabo pelas corporações de biotecnologia é uma guerra sem fim, pois as pestes se
modificam continuamente e se tornam resistentes aos venenos, exigindo cada vez
mais toxidade para serem eliminadas. Mas essa guerra é desnecessária. As pestes
são produto de uma desarmonia nos ecossistemas, e podem ser evitadas por meio
da produção orgânica, que restaura a diversidade e o equilíbrio ecológico.